ISTO NÃO É UM MUSEU VIRTUAL

O que você vê aqui não é uma réplica.
Não é uma interface limpa.
Não é uma galeria de objetos mortos.
Isto não é um museu virtual.

Este manifesto nasce do colapso da memória e da impossibilidade da restituição plena.

A lenta descaracterização de espaços, a fragmentação de acervos, o abandono de políticas de preservação e o silenciamento de narrativas desconfortáveis. A memória nacional foi sendo desfeita não só pelo fogo, mas por sucessivas camadas de esquecimento institucional e apagamentos simbólicos ao longo de quase dois séculos.

O Museu do Imperador não é uma tentativa de restaurar o que foi consumido, destruído, perdido de vista. É um gesto crítico e arqueológico. Um espaço para pensar os limites da reconstrução e os sentidos do que é lembrado — e do que é apagado.

Não se trata de uma simulação, nem de uma experiência imersiva neutra. As tecnologias aqui empregadas não servem para encenar o passado, mas para expor as rupturas que o atravessam.

Como observou Brian O’Doherty, o museu moderno é uma cápsula que silencia o tempo. O Palácio da Quinta da Boa Vista já havia sido esvaziado de sua função imperial muito antes de ser incendiado: transformado em vitrine científica, teve suas camadas políticas e afetivas cuidadosamente desfeitas.

Este projeto não reconstrói o que se foi.
Ele escava o que restou.

Como alertou Theodor W. Adorno, toda tentativa de conservar carrega em si a ameaça da falsificação. E Donald Preziosi reforça: o museu não apenas preserva — ele transforma, consome, reconfigura.

O Museu do Imperador é ruína pensada.
É a arqueologia do apagamento.
É um espaço de escuta crítica.

Isto não é um museu virtual.
É o aviso de que nem tudo pode — ou deve — ser reconstruído.